“Quando
a noite cai, o ar se enche de sonhos...”
Os sonhos desempenhavam um papel fundamental para os índios
Ojibwe (ou Chippewa). Para este Povo que vivia na região dos Grandes Lagos
Americanos, e que hoje também se espalha por outras regiões do Novo México,
aprender a decifrar as mensagens reveladas nos sonhos era a tarefa mais
importante que as pessoas tinham durante sua passagem pela Terra.
O Filtro dos Sonhos, como ficou conhecido em português, na
verdade não é um filtro, é uma teia, um apanhador de sonhos. Os Ojibwe acreditavam quem quando a noite
cai, o ar se enche de sonhos, bons e ruins. Alguns destes sonhos, mesmo sendo
pesadelos, podem conter uma mensagem importante do Grande Espírito para nós.
Então, na verdade, estes sonhos são bons sonhos. Mas existe muitos outros
sonhos e energias ruins flutuando à nossa volta e que não são nossos. Estes são
os que podem nos fazer mal. É justamente para separar estes sonhos e energias
ruins que existem as Teias dos Sonhos.
A Tradição manda que as teias coloridas sejam penduradas
sobre o berço dos bebês e a caminha das crianças. Os sonhos bons, sabendo
exatamente aonde devem ir, conseguem passar pelo buraco central da teia, ao
passo que os sonhos ruins ficam perdidos e acabam presos nos fios. Quando os
primeiros raios de sol surgem, os sonhos maus desaparecem. Os círculos são
feitos com ramos flexíveis de salgueiro e revestidos com tiras de couro.
Uma pena é colocada no centro, representando o ar ou a
respiração, essencial para a vida. O bebê, observando a pena dançar ao vento,
aprende uma lição sobre a importância do ar. Além disto, a pena de coruja,
feminina, simboliza a sabedoria. A pena de águia, masculina, serve para dar
coragem.
Para captar os sonhos dos adultos, as Teias dos Sonhos são
trançadas em fibra e não com ramos de salgueiro, Por isso são mais resistentes.
Embora a Teia dos Sonhos tenha começado com os índios
Ojibwe, quase todas as tribos de índios americanos há muitos e muitos anos
produzem suas próprias Teias dos Sonhos. E suas lendas correm por toda parte.
Existem muitas histórias relacionadas com Aranhas e
Mulheres-Aranha entre as várias Nações de Índios Americanos. Em muitas destas
tradições, por exemplo, a Mulher-Aranha é um personagem fundamental e sábio,
ora Mensageira do Sol, ora Avó do próprio Sol e organizadora da vida na Terra.
Existem várias lendas relacionadas com as Teias dos Sonhos. Esta que escolhemos
é apenas uma das versões.
“Uma aranha fiava sua teia próximo do lugar onde a avó
dormia (Nokomi). Todos os dias ela observava a aranha trabalhar. Alguns dias
depois, o neto entrou e, ao ver a aranha na teia, pegou uma pedra para matá-la.
Mas a avó não deixou. O menino achou estranho, mas respeitou o desejo dela. A
velha mulher voltou-se para observar mais uma vez o trabalho da aranha e,
então, a aranha falou: “Obrigada por salvar minha vida. Vou dar-lhe um presente
por isso. Na próxima Lua Nova vou fiar uma teia na entrada de usa tenda. Quero
que você observe com atenção e aprenda como tecer os fios. Porque esta teia vai
servir para capturar todos os maus sonhos e as energias ruins. O pequeno furo
no centro vai deixar passar os bons sonhos e fazê-los chegar até você.”
Quando a Lua Nova Chegou, a avó viu a aranha tecer sua teia
mágica e, agradecida, não cabia em si de felicidade pelo maravilhoso presente.
“Aprenda”, dizia a aranha. Finalmente, exausta, a avó dormiu. Quando os
primeiros raios de sol surgiram no céu, ela acordou e viu a teia brilhando como
um cristal, graças as gotas de orvalho capturadas nos fios. A brisa trouxe
penas de pomba que também ficaram presas na teia, dançando alegremente e, por
último, um corvo pousou na teia e deixou uma longa pena pendurada. Por entre as
malhas da teia, o Pai Sol sorria alegremente. E a avó, feliz, ensinou todos da
tribo a fazer as suas próprias Teias dos Sonhos. E até hoje elas vêm afastando
os sonhos maus de muita gente.”